Uma sala de aula é como uma pequena sociedade, com seus líderes, suas modas, suas normas… e sua diversidade. A sala de aula é diversa porque nossos estudantes também são. Sempre foi assim e, espero, sempre será.
Em uma sala de aula tradicional, o desafio de atender à diversidade era camuflado pela estratégia de ensino. Quando tudo o que fazemos é explicar e escrever na lousa, não faz muita diferença ter um único aluno ou cento e cinquenta.
Mas hoje, em salas de aula cujo motor da descoberta é a pergunta, nas quais os estudantes passam mais tempo manipulando materiais e conversando do que ouvindo explicações formais, a diversidade emerge em todo o seu esplendor e complexidade. E se acrescentarmos à equação o fato de que a pesquisa em educação treinou o nosso olhar e aumentou a nossa sensibilidade, uma conclusão se torna inevitável: temos que atender à diversidade em sala de aula, provocar experiências de aprendizagem personalizadas, garantir que cada aluno possa avançar em seu próprio ritmo, etc. Fantástico! A grande maioria dos professores concordará com essas premissas, mesmo que às vezes precisem relativizar.
Os problemas da personalização do aprendizado
Tudo soa muito bem… no papel. Na prática, as proporções professor-estudante tornam quase impossível personalizar o aprendizado para todos, em todos os momentos. Se você atende a uma criança (ou um grupo), não atende aos outros. A primeira solução parece simples: reduzir a proporção professor-estudante. Ou fazemos turmas menores, ou designamos mais de um professor por sala de aula. No entanto, a maioria das escolas não dispõe dos recursos necessários para aplicar tais medidas.
Como se não bastasse, também falta formação especializada. Então, o que queremos dizer com atenção à diversidade? O que significa a sigla DUA, que muitas vezes aparece nesse contexto? Que dificuldades de aprendizagem podemos encontrar em sala de aula? Como podemos ajudar os estudantes que as experimentam? E aqueles que têm altas capacidades? E mais: o que queremos dizer com altas capacidades? É melhor misturar a turma ou formar grupos homogêneos?
Percebemos que muitos centros já começaram a capacitar-se para responder a essas perguntas. Outros o farão em breve. Neste artigo sobre diversidade, tentaremos lançar luz sobre essas questões e explicar como as estamos abordando. Vamos em frente!
Começar a atender a diversidade a partir da perspectiva (DUA)
A primeira coisa a esclarecer é que, na Innovamat, não fazemos mágica. Não somos um método, não temos uma fórmula mágica para fazer com que todos os estudantes aprendam a mesma coisa, ao mesmo tempo. Isso não existe. Mas isso não significa que nada pode ser feito.
O DUA, ou Desenho Universal para o Aprendizagem, obedece diretrizes que começaram como um projeto do Centro Nacional de Acesso ao Currículo Geral do Departamento de Educação dos EUA, liderado por Anne Meyer e David Rose, da Universidade de Harvard (2002, 2005, 2006). Basicamente, essas diretrizes se concentram nas barreiras ambientais, em vez dos déficits.
São essas barreiras, que não afetam igualmente a todo mundo, que impedem que as crianças aprendam todas no mesmo ritmo. Por isso, a DUA propõe três diretrizes principais ao projetar as sessões, para minimizar o efeito dessas barreiras:
Na proposta da Innovamat, procuramos motivar os estudantes em todas as atividades, desde o início. Às vezes, conseguimos isso por meio de vídeos narrativos que contextualizam algumas sessões (os Crics, na educação infantil, os Bmath, nos anos iniciais do ensino fundamental, e A Viagem de Sam nos anos finais do EF). Outras vezes, usamos perguntas abertas, com diversidade de estratégias e soluções, as quais representam um desafio estimulante.
Trabalhamos a representatividade desde a concepção didática. Um dos quatro processos em que a atividade matemática é dividida, o de Comunicação e representação, está muito presente em todas as sessões e na avaliação por competências que propomos. O uso de diversos recursos, dos materiais projetáveis, applets do aplicativo Innovamat App e vídeos interativos até os cadernos e o material manipulativo específico para cada curso, também ajuda a turma a abordar conceitos a partir de diversas perspectivas e consolidar conexões.
A ação e a expressão também estão presentes na proposta. O próprio uso dos recursos e dos materiais manipulativos facilita a experimentação, que às vezes é mais livre, às vezes mais orientada. O ambiente de aprendizagem baseado na conversa entre colegas, no qual todas as informações são bem-vindas, também é ideal para que as crianças compartilhem ideias e se expressem sem medo de errar.
Atividades bem escolhidas: "piso baixo e teto alto"
Quando a equipe didática pensa nas atividades da proposta, sempre tem em mente a metáfora do “piso baixo e teto alto”. Essa é uma ideia recorrente nas pesquisas de Jo Boaler, da Universidade de Stanford, e no projeto NRICH, da Universidade de Cambridge (2013, 2017). A própria Boaler (2022) conta assim em um de seus últimos trabalhos:
“É muito difícil encontrar tarefas que sejam perfeitas para todos os estudantes, mas quando abrimos os exercícios e os tornamos mais amplos, quando os transformamos no que chamo de ‘piso baixo, teto alto’, eles se tornam possíveis para todos.”
Uma atividade é de “piso baixo”, quando ela convida todos os estudantes a entrar e começar a pensar a partir de uma premissa simples. Se, além disso, a atividade tiver “teto alto”, os que puderem vão decolar e chegar mais além.
Um bom exemplo disso são as atividades que seguem a dinâmica “Quem é o intruso?” (Qual não pertence), por exemplo:
Qualquer estudante pode pensar e descobrir argumentos simples, tipo “o intruso é o D porque é a única figura sem peças azuis”. Mas, dentro da mesma abordagem, outra criança pode argumentar que “o intruso é o B porque é o único sem eixos de simetria”, e ir mais além, analisando a simetria de cada figura.
A chave para a inclusão é evitar a fragmentação da turma, ou seja, evitar que a maioria dos alunos faça “o que tem que fazer” e os que têm dificuldades ou têm altas capacidades faça outras coisas. Assim, incentivamos todo o grupo a fazer parte da conversa e se envolver na mesma atividade.
Isso permite que todos os estudantes tenham a oportunidade de viver um momento de glória matemática na sala de aula e sejam protagonistas de uma reflexão ou de uma descoberta. Esses momentos são fundamentais para construir uma imagem positiva da matemática e reduzir a ansiedade que ela às vezes causa. Os diversos ritmos de aprendizado se beneficiam dessa abordagem, pois as crianças aprendem umas com as outras, interagindo, manipulando e falando sobre o mesmo assunto.
Depois, quando praticarem individualmente o que foi construído em grupo, seja no caderno ou no aplicativo, é que vamos poder diagnosticar melhor os diferentes ritmos de aprendizado e tomar as medidas necessárias, usando materiais e atividades de apoio ou extensão. Somente o professor tem as informações necessárias para aplicar essa atenção de forma personalizada, considerando as necessidades de cada estudante.
Dificuldades de aprendizagem diagnosticadas na aula de matemática
Existem três dificuldades de aprendizagem comuns que têm um grande efeito nas crianças quando estão na aula de matemática: discalculia, dislexia e disgrafia. Além disso, outros transtornos, como o TDAH, também representam uma barreira para muitos estudantes. Sem falar nas questões mais específicas de deficiência ou diversidade funcional, que podem exigir um plano individualizado (PI).
Essas dificuldades podem ser combatidas de várias maneiras, mas uma das mais populares é a resposta à intervenção (RTI, na sigla em inglês). A RTI é um modelo que detecta dificuldades com base na resposta das crianças a uma adaptação ou intervenção específica, e já está sendo implementada transversalmente em escolas de países como Estados Unidos, Holanda e Finlândia.
Em um próximo artigo deste blog, abordaremos em maior profundidade as dificuldades de aprendizagem e o modelo RTI. Faremos isso com a ajuda da equipe de pesquisa da Innovamat, que foi criada este ano e já iniciou vários estudos sobre ansiedade matemática e dificuldades de aprendizagem. Ela também desenvolveu uma RTI para as crianças que precisam melhorar habilidades básicas, como a fluência aritmética.